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"Resultado que nasce incansável da arte de lapidar palavras e transmitir conteúdos"

segunda-feira, 20 de junho de 2016

De Sampa para Toronto: uma leve mudança de ares

Casal conta como pretende manter o mesmo estilo de vida que possui hoje, mas indo morar, estudar e trabalhar no Canadá



A designer gráfica Julia Melo, de 30 anos, freelancer e sócia de uma pequena editora com a mãe, e seu esposo, Ronald Augusto, 31 anos, formado em gestão empreendedora, atuando na área de gerenciamento de categoria em uma rede de supermercados, moram juntos em um apartamento na região de Pinheiros, em São Paulo, há quase 5 anos. Desde janeiro, porém, esse estilo de vida ganhou um novo significado quando tomaram uma decisão: “vamos continuar morando de aluguel para não haver nada que nos prenda, assim poderemos ir viver no Canadá”.

Qual o plano de vocês?
Julia: Bem, estamos pensando nisso desde janeiro de 2016. Começamos pesquisando quais os melhores países para se viver, que fossem fáceis de conseguir cidadania para quem não tem parentes. Nós ficamos entre Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
Ronald: No fim das contas, foi o fuso horário que definiu, não queríamos algo que fosse tão distinto de São Paulo, pois assim a Julia poderia continuar com alguns clientes daqui, fazendo jobs à distância.
Julia: Agora estamos decididos: vamos em julho de 2017.

O que os motivou a tomar essa decisão?
Ronald: Já estamos com 30 anos, daqui a pouco não dá mais tempo de fazer essas doideiras (risos) e lá teremos mais oportunidades também.
Julia: Para sermos francos, estamos um pouco desiludidos com a política e a situação financeira do Brasil, queremos viver em um lugar que valorize mais as pessoas. Acreditamos que é uma experiência com ganhos pelos dois lados, conseguindo morar lá definitivamente ou não. Então por que não arriscar? Não temos nada que nos prenda aqui no Brasil!

E onde querem morar no Canadá?
Julia: Na cidade de Toronto, já vimos que existe voo direto de São Paulo. E vamos ter o mesmo estilo de vida que aqui, viver de aluguel também. Descobrimos que um apartamento equivalente ao que moramos hoje, em Pinheiros, e pagamos cerca de R$ 2.700,00 encontraríamos por R$ 1.300,00 em Toronto.
Ronald: Sobre o Canadá, em si, além do fuso horário permitir fazer trabalhos para o Brasil de forma mais direta, eles aceitam imigrantes numa boa e o dólar canadense é muito mais barato que euro ou dólar americano.

Já pesquisaram a respeito do visto?
Julia: Bastante. O processo de visto demora cerca de 2 meses, vimos os documentos já, mas a imigração é mais complicada, leva uns 2 anos. O plano é: eu pegaria um visto de estudante que me permitiria trabalhar 20 horas por semana.
Ronald: Eu, como cônjuge, ganharia um visto de trabalho que me permitiria atuar full time, 40 horas por semana. Com esse visto podemos ficar o tempo do curso dela e mais o mesmo tempo novamente.
Julia: Se for uma pós-graduação de 2 anos, conseguiremos ficar por 4 anos com o visto, por exemplo, e na segunda metade do período eu já poderia trabalhar full time também.

Como vocês estão organizando as finanças para essa mudança?
Ronald: Fizemos as contas e vimos que, mesmo alugando um apartamento, com um pouco de disciplina, conseguiremos guardar algum dinheiro, portanto não precisamos alterar nosso estilo de vida, ainda bem, porque adoramos poder morar em Pinheiros.
Julia: Também já juntamos mais da metade do valor vendendo um apartamento que tentamos adquirir por meio de financiamento. Há alguns anos, compramos na planta e percebemos que não valia a pena, ficamos assustadíssimos com os juros das construtoras, o quanto a gente pagava e não mudava o saldo final, imagina ficar 30 anos presos a essa dívida?

Quanto pretendem juntar para a viagem?
Julia: Vamos levar no total 150 mil reais, daria para ir com menos, mas somos muito organizados. É um valor que pensávamos em usar de entrada em um apartamento próprio algum dia, mas felizmente os planos mudaram para melhor!

E quando estiverem lá, como pretendem se manter?
Julia: Bom, eu faria uma pós-graduação dentro da minha área, trabalharia com os clientes atuais do Brasil e tentado prospectar novos cliente por lá. Pretendo estudar design digital, pois atualmente minha especialidade é design gráfico impresso e editorial, mas essa área está enxugando. Então, mesmo se a gente acabar voltando para o Brasil, terei uma especialização numa área que está crescendo e com curso no exterior.

Ronald: Já eu estudaria inglês no início para melhorar meu nível e paralelamente procuraria algum trabalho genérico em escritório, tipo assistente comercial ou administrativo, seria um downgrade na minha carreira, mas compensa, vamos manter um padrão de vida parecido, pois o custo de vida lá é bem menor.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

As gatas são as donas do pedaço!

Você adaptaria seu apartamento alugado para dar mais espaço e conforto aos seus animais de estimação? 

Essa é a história de Simone Aparecida Alves de Araújo, uma mineira natural de Betim, que vivem em São Paulo desde 2003, é solteira, tem 40 anos, mora em um apartamento alugado no bairro da Pompeia, na companhia de mais sete gatas. Ela optou pelo sim.

O começo da história

“Eu estava acostumada a ter animal, então quando vim para São Paulo resolvi adotar a primeira gata. Pouco tempo depois peguei mais uma, para fazer companhia, e as duas se deram super bem, estão ambas com 13 anos agora”, conta Simone, que ainda nessa época poderia ser considerada uma pessoa “comum”, tanta gente tem duas gatinhas num apartamento, não é mesmo?

Simone é editora de áudio e por conta do trabalho precisou passar um período de 2 anos em Curitiba. Foi na capital do Paraná que ela encontrou sua terceira gata. “A Nina é a que mais exige cuidados, ela tem uma patinha menor, por isso não costumava subir nos móveis e nem brincar tanto, é cheia de alergias, não posso usar determinados produtos para limpar a casa, por exemplo”, explica.

De Curitiba, Simone voltou para Betim por seis meses e pela primeira vez enfrentou problemas no aluguel de um apartamento por conta das três gatas. “No condomínio era proibido ter gato, então entrei escondida com elas, só que o apartamento era no térreo e um dia uma criança viu as gatinhas, fiquei com receio de tirarem elas de mim ou nos expulsarem de lá”, confessa ela.

No entanto, o advogado João Paulo Cruvinel explica: “Atualmente, o Condomínio pode até ter em sua convenção ou registro em assembleia a restrição a animais, mas a jurisprudência tem caminhado no sentido de invalidar essas disposições, uma vez que inexiste qualquer proibição legal à permanência de animais na propriedade privada”.

Depois do episódio, no entanto, ela adotou o hábito de sempre perguntar nos apartamentos que aluga se pode ter animal antes de fechar o contrato. “Nesse último apartamento que entrei, falei que tinha animais para o corretor, mas não dei detalhes de quantos eram”, conta ela.

Como a presença de animais no imóvel é lícita, Simone só não poderia levar as gatas caso o proprietário se manifestasse em contrário. “O proprietário está no direito dele de alugar uma propriedade sua sem permitir a permanência de animais no imóvel, ao celebrar o contrato, o locatário está concordando com a proibição prevista no contrato”, esclarece João Paulo Cruvinel.

Muita gente estranha quando se diz ter mais de 3 ou 4 gatos e esse aspecto deixa Simone inconformada: “As pessoas têm preconceito quando falo que moro com sete gatas, elas pensam que sou algum tipo de acumuladora, que meu apartamento deve cheirar muito mal, mas não é assim, nem se vê todas ao mesmo tempo”, explica.

A família aumentou, e agora?

Em 2010, quando ela voltou a morar em São Paulo, já no bairro da Pompeia, trabalhando bastante de homeoffice, resolveu adotar a quarta gata e foi aí que sua vida começou de fato a mudar, a princípio na sua relação com o pai e terminando com uma necessidade cada vez maior de readequação do espaço em benefício dos animais.

“As duas primeiras gatas meu pai foi super a favor, na terceira ele achou que era muito, mas ainda assim me ajudou a cuidar delas em Betim, mas na quarta... ele já não queria aceitar”, conta Simone e acrescenta: “Nem preciso dizer a cara que ele fez quando peguei mais duas filhotes pouco tempo depois”.

Nos primeiros dez anos, Simone teve objetos comuns para as gatas, desses que se compra em pet shop, como casinhas, caminhas e brinquedos, mas ela sempre estava à procura de produtos mais interessante. “Eu fico de olho nas novidades para gatos, sempre pesquisando na internet, tem muita coisa no exterior, mas aqui quase nada”, lamenta-se ela.

Até quatro gatas o espaço dava, mas a vida já não era tão tranquila, pensando assim, Simone foi adaptando a casa para suas filhas de quatro patas. “Eu tinha um sofá enorme e elas destruíram os braços, então comprei um menor e sem braço”, conta ela, mas a mineira afirma não se importar de ter os móveis “customizados” pelas gatas, a exemplo de sua cadeira de escritório que está toda arranhada.

Mas essa história começou a mudar na metade de 2014, quando Simone conheceu a Pepe Cats, empresa criada por Mariana Lovitto, que possui uma linha de mobiliário planejado para diversos usos e atividades dos felinos. “A ideia é proporcionar maior liberdade de movimentação dos gatinhos, principalmente para aquele que vivem em apartamento e estão sujeitos à obesidade”, explica a proprietária da empresa.

“Eu fiz três projetos seguidos de mil reais cada um mais ou menos”, conta Simone e justifica: “Gostei dos móveis deles por ter um aspecto mais clean e ser de compensado de madeira”. Ela acredita que o custo compensou, não só pelos benefícios, mas pela durabilidade do material: “Alguns estão na varanda, tomam chuva e continuam como novos”, resume Simone.

Uma verdadeira transformação

Assim, a mineira foi adaptando o apartamento para se tornar um playground para gatos. “Foi amor à primeira vista quando minhas gatas perceberam que teriam mais espaço e seria só delas”, conta Simone emocionada, que também descobriu outra vantagem de ter investido nisso: “Hoje elas arranham e mordem os móveis delas e deixam os meus em paz”.

“Logo percebi que uma parede era pouco para as quatro, até mesmo a Nina começou a subir e surgiram brigas pelos espaços, então coloquei mais itens, arranhadores e escadinhas, virou uma festa”, conta Simone. Como o apartamento tinha quase dobrado de área útil, pelo menos para as gatas, ela quis começar uma segunda geração, adotando quase ao mesmo tempo duas filhotes.


Já a sétima gatinha veio somente no apartamento novo, onde Simone mora há quase um ano. “Estava há 9 anos no apê anterior quando o proprietário pediu de volta, comecei a olhar outras opções, queria algo que fosse no bairro, com o mesmo tamanho: 50 m2”, conta ela. O escolhido foi um apartamento no mesmo quarteirão.

Mas uma mudança que, para humanos, quase não faz diferença, para animais é o mesmo que ir a outro planeta. “Precisei readequar a disposição do mobiliário delas e elas estranharam, por outro lado, adoraram a varanda”, relata Simone, enfatizando que até quando chove algumas gatas não querem sair de lá.

E Simone conta, rindo: “A mudança dos gatos foi maior que a minha!”. Ela perdeu o medo de “não poder alterar nada no apartamento porque é alugado” e hoje se apropria do espaço como se fosse próprio, inclusive acredita que vale a pena fazer as reformas que forem necessárias para deixar o ambiente mais acolhedor para sua família, ou seja, ela e as sete gatas.

Nesse replanejamento do espaço, algumas coisas foram montadas e não funcionaram muito bem, como a escadinha no quarto, segundo Simone: “Da cama elas pulavam para a escada, mas tinha ficado muito longe, então chamei a Pepe Cats e eles consertaram”. Observando a movimentação delas, percebeu também que os módulos no escritório haviam ficado muito altos: “Tive que acrescente apenas uma prateleira a mais para facilitar o acesso”.

Ainda acontece de, quando estar trabalhando, as gatas subirem na mesa e ficarem em cima dela, é claro. “Mas agora até isso é bem mais tranquilo, porque elas curtem mais os móveis delas, gostam de ficar no alto” explica Simone. “Os módulos em cima da cama foram ideais para diminuir a lotação na hora de dormir também”, afirma ela e conta que, das sete gatas, umas duas ou três ficam na cama, as outras sobem e se acomodam no canto delas.


Valeu a pena!

Assim como tem gente que sonha em fechar o braço com tatuagens, Simone que fechar as paredes com módulos, prateleiras e objetos para seus animais. “Gosto dos móveis suspenso, não incomodam, livram o chão, quero colocar mais, a parede do corredor ainda está livre”, exemplifica ela, que prefere gastar seu dinheiro com coisinhas para as gatas.
“Minha vida é muito em função delas, penso mais nelas do que em mim, e isso vale até para os móveis e a decoração”, afirma Simone. Ela acredita que valeu a pena toda essa adaptação e adora conviver com esses bichinhos de estimação, que quase não fazem barulho, gostam de limpeza, são carinhosas e também bastante independentes, segundo sua dona.


Aliás, dona não né, tutora. Conforme explica Bruna Penna, estudante que está se formando em Medicina Veterinária e Zootecnia pela Universidade de São Paulo (USP), e é defensora dos animais: “Embora isso não tenham mudado na legislação, acredito que as coisas caminhem para que os animais parem de ser vistos como objetos que possuem donos e passem a ser tratados como seres vivos, que têm um responsável, ou seja, um tutor”.

E a tutora Simone está feliz da vida com seu lar todo animado. “Hoje eu não consigo viver sem as gatas, cada uma delas é especial, aprendo cada dia com elas, como por exemplo a ter mais calma, até me tornei uma pessoa mais caseira”, reflete ela. Se alguns amigos deixaram de visitá-la, por alergia ou mesmo por preconceito, ela não se importa e afirma: “Aqui é a casa delas, minhas gatas são as donas do pedaço e precisam ser respeitadas”.