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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Elas querem morar junto, não precisa casar

Beijo na boa é coisa do passado, a moda agora é: morar com o namorado(a)!

Quando o assunto é casar ou comprar uma bicicleta, às vezes nenhuma das duas opções satisfaz. As mulheres são tão independentes que tanto podem escolher uma vida de solteiras, com ou sem bicicleta, como podem viver logo com quem amam, sem que seja necessário uma amarração tradicional por trás desse ato. 

Hoje, Julia (30), Marion (30), Daniela (27) e Pamela (21) contam suas experiências a partir do momento em que decidiram morar com seus parceiros e parceiras.

Há quase 5 anos morando juntos de aluguel, num total de 8 anos de namoro, quem larga na frente é Julia e seu agora recente marido Ronald (31). “Fizemos a declaração de união estável este ano só para podermos viajar e ele usar o seguro de saúde do cartão de crédito”, explica Julia. A referida viagem, de 1 mês pela Califórnia, foi bancada com o dinheiro que eles decidiram não gastar em festa de casamento.

Em segundo lugar, com quase 3 anos de namoro e igual tempo morando juntas, está Marion e sua companheira Gabi (27). A epopeia delas começou com apenas 1 mês de namoro. Marion deixou sua cidade natal, Serra Negra, no interior de São Paulo, e veio junto com a filha Heloá, na época com 6 anos, morar no apartamento da sogra. A criança logo se afeiçoou à nova vovó, já Marion: “Saía briga todos os dias e em pouco tempo ela me expulsou de lá”. O jeito foi voltar para sua cidade com a filha e a namorada, ao apartamento alugado que dividia com o ex-marido, com quem tinha uma relação pacífica.

Outro ato corajoso é o de Pamela Cristina e Thaina (20). Elas são namoradas há 4 anos e moram juntas há 2 e meio na zona sul de São Paulo. Foi a primeira experiência morando independente da família para ambas e elas já estão no 2º aluguel, sendo que o 1º foi uma casa de parente, então não tiveram problemas com seguro fiança, nem nada. Mesmo assim, já enfrentaram muitas situações difíceis.

E AGORA, AMOR?

Vamos começar essa história com Daniela e Bruno (34) que também são namorados há quase 4 anos, ambos ainda vivem com familiares e agora andam pensando no próximo passo: morar juntos. Para Daniela, é importante passarem um período de test drive antes de considerarem um casamento, mas seu sonho da casa própria está cada vez mais distante. “Eu sempre tive o pensamento de comprar a minha casa, o Bruno não, ele prefere mais o aluguel”, explica Daniela.

Mesmo ela concorda que investir suas economias para dar entrada em um imóvel, neste momento, não é um bom negócio, pois além da insegurança financeira, os preços onde querem morar são abusivos. “Alugando, podemos morar num lugar bom e com preço justo", diz ela, que trabalha na região do Campo Belo e Moema, na zona sul de São Paulo.

Se dependesse de Daniela, eles já estariam fazendo as malas, mas sua impulsividade é controlada pelo namorado que coloca as contas na ponta do lápis e pesquisa bem antes de tomar uma decisão. “Ele é muito centrado e compreensivo, eu trabalho das 6h às 22h e já sei que não terei condição de cuidar da casa, mas ele é tranquilo com relação a isso, está acostumado a conviver com mulheres, além de ser bastante companheiro. A gente combina, com certeza isso vai dar certo”, afirma Daniela.

SAI DESSA FURADA...

Julia, que passou pela experiência de entrar em um financiamento de apartamento na planta e desistiu dessa empreitada a tempo, não se arrepende. "Ficamos assustadíssimos com os juros das construtoras, o quanto a gente pagava e não mudava o saldo final, então desencanamos disso e agora moramos de aluguel” conta.

Entre morarem na periferia da zona oeste da capital paulista e no coração do bairro de Pinheiros, não há dúvida de qual opção agradou mais ao jovem casal. “Vale mais a pena pra gente, estamos num bairro melhor, perto do trabalho, não gastamos horas no transporte e o valor final que se paga em imóvel financiado é muito absurdo”, pondera Julia. Ela considera que as gerações passadas ainda compravam imóvel nos bairros melhores de São Paulo, hoje, porém, a relação do salário de um cargo de nível intermediário com o valor dos apartamentos torna esse sonho impossível.

“Preferimos juntar dinheiro e pagar à vista do que ficar 30 anos com uma dívida”, explica Julia. Mas, na verdade, nem essa opção é a que norteia os dois atualmente. Por não estarem amarrados a uma bomba imobiliária, eles começaram a considerar outras possibilidades de vida: “Agora, nossa expectativa é mudar para o Canadá, então não rola nenhuma vontade de comprar um imóvel no momento”, revela.

E AS DIFICULDADES?

Sim, elas existirão sempre, seja morando com os pais, sozinha, com amigos ou o/a namorado/a. “Desde o primeiro aluguel, até agora, acho que trocar o gás foi a maior aventura pra gente”, afirma Pamela. “E teve um outro momento em que a porta do guarda-roupa caiu e tivemos que arrumar, ou tentar pelo menos”, ela se lembra do episódio rindo. “Uma vez fritou a eletricidade do apartamento e tivemos que trocar toda a fiação”, conta Julia, indignada. Claro que eles foram reembolsados por isso.

Quando acabou o primeiro contrato de Serra Negra, Marion e Gabi decidiram se mudar para outro lugar mais em conta, dessa vez sem a companhia do ex-marido, porém: “Foi um desastre, chovia mais dentro do que fora naquele apartamento, perdemos uma cama novinha”, conta Marion. Após muita conversa, elas tomaram a decisão de retornar a São Paulo e morar novamente com a mãe de Gabi, que estava vivendo numa casa.

“Apesar de não me dar bem com minha sogra, entendi que ela é uma mulher doente e precisava de auxílio, perdi minha mãe há dez anos e não queria afastar minha namorada da mãe dela também”, Marion explica um dos motivos que norteou sua decisão. O que mais dava forças para seguirem enfrentando as dificuldades era acreditarem que logo teriam um lar decente só para elas e a filha, claro.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

Quem mora de aluguel tem que se virar para deixar um toque pessoal ao lugar. “Se fosse nosso, a gente mudava tudo, mas não fazemos porque não compensa”, afirma Julia, pensando em todas as reformas que ela e Ronald teriam vontade de fazer. No entanto, eles investem em decoração, colocando quadros e outros objetos no apê.

Para Julia, uma preocupação constante de quem mora de aluguel é quando está acabando o contrato e a renovação costuma vir acompanhada de aumento. “Quem aluga está sempre buscando outra coisa, sabe que o contrato vai vencer e fica de olho se aparece uma oportunidade melhor”. Mas, como até agora eles sempre conseguiram negociar a renovação contratual, apesar do valor já ter subido um terço em relação ao que pagavam no início, acabaram não saindo do mesmo apartamento.

Além do amor e outros tantos motivos para tomarem essa decisão de morarem juntas, Pamela ainda ressalta: “Alugamos muito por uma questão de logística, eu morava em um lugar ruim de transporte, e então achamos um lugar e um jeito de ir morar juntas”. Claro que não é fácil, as meninas acabam sendo alvo de críticas por serem jovens, mulheres e homossexuais. “Pessoas falando mal sempre tem, somos cercadas desse tipo de comentário, mas não ligamos pra essas coisas, o povo fala, mas não separa”, declara ela, confiante.

Entre os bons momentos disso tudo, a jovem destaca a primeira vez na cozinha juntas: “Fazemos um macarrão delicioso”. Para Pamela, ter o próprio espaço é a melhor coisa, mesmo que seja alugado, e não tem essa de que a relação esfria ou que a convivência diária acaba com o namoro, apaixonada por Thaina, ela se declara: “Sabe aquela sensação de completo? Acordar numa metade e ter ao seu lado a outra metade que te faz um inteiro? Ao acordar ao lado dela, mesmo sabendo que vou ter um dia difícil no trabalho, também sei que vou poder voltar e dormir num colo calmo! Ela me traz essa calmaria”.

Alugar tem mesmo suas vantagens e desvantagens, mas no fim, será que a aventura compensa? “Dividir a casa com ele é muito fácil, não tem conflito, nos damos bem, quase nem brigamos”, responde Julia feliz. Geralmente, a divisão deles para as tarefas domésticas é: ela cozinha, ele lava a roupa e eles racham a louça. “Não nos arrependemos de optar por essa fórmula. Moramos de aluguel onde queremos, ganhamos muito em qualidade de vida e economizamos horas de deslocamento”, conclui ela.

Depois de 4 tentativas, já faz 1 mês que Marion e Gabi estão morando sozinhas, desta vez num apartamento alugado em Interlagos. “Quando vi meu quarto dos sonhos, com a parede roxa, a lousa de borboleta, a mesinha, tudo tão lindo, eu chorei”, conta Heloá, que agora já está com 9 anos e também sente que, pela primeira vez, pertence realmente àquele lugar. As “mães” sabem que não será fácil, mas esperam dias melhores do futuro, sem jamais perderem a esperança.