Sobre o blog

"Resultado que nasce incansável da arte de lapidar palavras e transmitir conteúdos"

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Quatro gatos, quatro estações

Certa vez fui à casa de uma tia, prima do meu pai, que morava no interior paulista, e ela tinha quatro gatinhos. Três eram machos: Verão, Outono e Inverno; e uma era fêmea: Primavera, é claro. Mas as semelhanças dos bichanos com as quatro estações não paravam nos nomes.

Verão era um gato gordo e folgado, sempre que possível comia a comida dele e dos outros irmãos. Era impossível não notá-lo, com sua pelagem cinza rajada, com riscas claras e escuras, olhos azuis claros, Verão não podia ver um colo disponível que já se aconchegava, todo molenga e carinhoso.

Outono, por sua vez, era magrinho, de pelagem tricolor e bastante arisco. Vivia nos telhados ou em cima das árvores, só dava para saber onde ele estava quando balançava os galhos e fazia as folhas caírem. Logo que cheguei demorou uns dias para me convencerem que o Outono existia.

Já o Inverno era um gato com o instinto de caçador bastante aguçado. Passava o dia dormindo, mas à noite saía sorrateiro e atacava insetos e ratos, que trazia como prendas. Inverno tinha a pelagem longa, era preto, com as patas brancas, parecia que usava um sobretudo e luvinhas, muito estiloso.

Sem dúvida, a Primavera era a mais agradável. Uma gatinha branca, com manchinhas amareladas e a pelagem bem cuidada. A brincadeira favorita da Primavera era se esconder no jardim, no meio das plantas, e saltar de repente, perseguindo abelhas e borboletas, muito ativa e espertinha.

Os nomes geravam diversas conversas engraçadas. "O Inverno matou duas baratas na noite passada". "O Outono subiu por aqui, deixou um rastro de folhas no chão". "Não consigo dormir com o Verão na minha cama". "Onde está a Primavera? É só procurar uma borboleta voando e lá está ela".

Gostei muito da ideia da minha tia de colocar os nomes das estações nos gatos! E se algum dia eu tiver um, também colocaria um nome bem criativo desses, por exemplo os meses do ano: Janeiro? Fevereiro? Março? Ou se forem quatro, que tal os pontos cardinais: Leste, Oeste, Norte e Sul?

sábado, 23 de abril de 2016

Moderna, ultrapassada ou complicada?

Imaginemos o seguinte diálogo:

Eu:
- Fiz faculdade de jornalismo.
Você:
- Ah...
Eu:
- Sim, quando comecei ainda precisava do diploma. 
Você:
- Ah!
Eu:
- Mas eu nunca fui realmente jornalista!
Você:
- Ah?
Eu:
- Aliás, eu nem sei o que uma jornalista de verdade faz...

Pronto. Agora você quer saber: por que escolhi essa profissão? Bom, eu queria poder escrever histórias! Sabe como é, conhecer pessoas, culturas, pontos de vistas, vivências diferentes e... contar histórias. Como aquelas da Eliane Brum em "O Olho da Rua", uma excelente inspiração.

Mas hoje em dia as coisas não são mais assim. Não existe vaga de colunista do jornal sendo anunciada em site de empregos. Pra jornalista só tem vaga de assessoria de imprensa, que se resume em livrar empresa de pepino e mandar e-mail marketing, ou analista de mídias sociais... preciso explicar?

Claro que eu não desisti de escrever, porém faço isso mais pra mim do que pra você. Coloco uma postagem aqui no blog, abro um bloco de notas no pc ou no celular, rabisco umas frases atrás do cupom fiscal do supermercado, ou onde der, até na parede do meu quarto costumo escrever.

Pois é, não está fácil pra ninguém. Machado de Assis seria um "youtuber" nos tempos de hoje! Imagina o sucesso? "O que será que Bentinho vai fazer com Capitu? Na próxima semana tem mais um vídeo! Não se esqueça de se inscrever no canal do @Assis_Machado. Quem gostou curte e compartilha".

São tempos modernos de mais ou eu que estou ultrapassada? Se eu tivesse dez anos menos, em época de vestibular, jamais teria escolhido cursar jornalismo. Já que o objetivo era escutar as histórias dos outros, poderia ter ido para a psicologia, por exemplo. Imaginemos o seguinte diálogo:

Eu:
- Fiz faculdade de psicologia.
Você:
- Ah...
Eu:
- Não, eu não estou te analisando. 
Você:
- Ah!
Eu:
- Mas eu nunca fui realmente psicóloga!
Você:
- Ah?
Eu:
- Aliás, eu nem sei o que uma psicóloga de verdade faz...

Desisto. Não é só uma questão de ser moderna ou ultrapassada. Pelo visto sou mesmo é complicada!